Recentemente, o
ex-prefeito de Bogotá entre 1998 e 2001, Enrique Peñalosa Londoño, esteve no
Brasil e falou uma frase que foi muito reproduzida pelas redes sociais afora (mas,
infelizmente, nunca repetida por nenhum prefeito no Brasil). Ele disse algo do
tipo: “Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas
aquela em que até os ricos usam transporte público”. Para boa parte da nossa
sociedade pode parecer até uma piada de mal gosto que alguém em sã consciência sugira
que se dê preferência ao transporte público em vez do transporte particular. E,
de fato, o transporte público no Brasil é caótico. A oferta é pequena, é
inseguro, desconfortável, não é pontual e, ainda por cima, é caro. É assim
porque as empresas que detém a concessão do transporte público hoje, pelo menos
no Rio de Janeiro, de uma forma geral não estão preocupadas em atender à
necessidade dos usuários e sim as necessidades dos donos. Que é uma só: ter
lucro. Por isso, o investimento no sistema é mínimo. Ônibus e trens circulam em
péssimo estado de conservação, gerando quebras e atrasos.
Por isso, quem
tem condições opta por comprar um carro. Opção mais do que legítima, uma vez
que ninguém pode ficar chegando constantemente atrasado no trabalho porque o
ônibus não passou ou porque o metrô estava tão lotado que não dava nem pra
entrar. Isso sem contar no grande lobby das montadoras de automóvel, que entopem
a televisão de propaganda e nos fazem sonhar em ter nosso próprio carrinho
desde que somos bebês. A ponto de os maiores sonhos de consumo do brasileiro
médio serem, desde pelo menos a década de 1970, a casa própria e o carro
próprio (mas isso é assunto para outro texto). É urgente, porém, que a
sociedade brasileira tome a consciência de que se todos continuarmos optando
pelo transporte particular as cidades irão parar mais cedo ou mais tarde. Já
tem algum tempo que os paulistas experimentam essa verdade. A solução para o
deslocamento urbano nas grandes e médias cidades é o transporte coletivo e
apenas ele. Bastam duas imagens para se comprovar esse fato. Uma delas reproduz
a frase de Londoño.
O fato é que,
apesar de todas as dificuldades, ou devido a elas mesmas, nós temos que
inverter essa lógica. O brasileiro tem que parar de pensar individualmente e
passar a pensar coletivamente. Em vez de ficar juntando dinheiro e, muitas
vezes, se endividar irremediavelmente para comprar e manter um carro, tem que
começar a exigir um transporte público de qualidade: seguro, pontual,
confortável e, se possível, por que não, barato. Tem que começar a exigir que
as empresas de transporte melhorem seu serviço. Em um setor que se caracteriza pela
inércia, se nós não cobrarmos nunca nada vai mudar. Tem que, principalmente, começar
a votar em políticos que estejam realmente comprometidos em resolver os
problemas da cidade. E o trânsito talvez seja hoje um dos piores deles. E não
em políticos que têm ligações escusas com as empresas de transporte, que ganham
dinheiro em cima do monopólio das empresas de ônibus, que as defendem das
reivindicações da sociedade e das ações do Ministério Público. Transporte
público é serviço de utilidade pública, não pode ser fonte de renda! Eu sei que
o texto assumiu um tom panfletário e, até mesmo, com pitadas de utopia. Mas se não
deixarmos nosso individualismo de lado e começarmos já a lutar por um transporte
público de qualidade, de nada adiantará você ter um carro, pois irá tirar o seu
carro da garagem na hora de ir para o trabalho apenas para ficar engarrafado 10
metros adiante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário