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segunda-feira, 30 de julho de 2012

MOBILIDADE URBANA

Hoje eu quero compartilhar uma matéria do portal PUC-Rio digital que fala sobre mobilidade urbana. Você tem a impressão de que está levando mais tempo do que antes para chegar ao trabalho ou para ir para a casa. A partir dessa matéria você pode ter certeza de que não é só impressão. Não só você, mas todos os cariocas estão perdendo mais tempo das suas vidas no trânsito. Pesquisa do IBGE aponta a região metropolitana do Rio de Janeiro como a pior do país no quesito mobilidade urbana. 

Curiosidade histórica: você sabia que a Avenida Presidente Vargas já foi considerada exageradamente larga na época da sua construção?

Além desse dado, a matéria aborda dados interessantes a respeito das medidas que estão sendo tomadas hoje para melhorar a mobilidade urbana da cidade para os megaeventos que se aproximam. Será que elas atingirão os seus objetivos? Uma cidade com a extensão do Rio, onde você só mora perto do seu trabalho se for muito sortudo (ou se trabalhar em casa) tem que ter uma política de transporte que não se baseie no rodoviarismo.

Confira a matéria no link: 

terça-feira, 24 de julho de 2012

CONSUMIDOR OU CIDADÃO?


Algumas semanas atrás, no jornal local da região onde moro, passou uma reportagem que mostrava como determinado colégio daqui estava ensinando as crianças a serem melhores consumidores. A estratégia pedagógica para isso foi a criação, nesse colégio, de uma moeda fictícia com a qual alunos das primeiras séries do ensino fundamental podiam comprar produtos em um comércio também fictício. Segundo professoras entrevistadas, a intenção é ensinar às crianças o valor do dinheiro, assim como fazê-las conhecer seus direitos como consumidores. Certamente, muitos pais veem essa iniciativa da escola de seus filhos com muito bons olhos. Provavelmente, alguns até mesmo consideram esse tipo de educação muito mais útil para os seus filhos do que as matérias tradicionais como português, história ou geografia. Eu, porém, considero esse tipo de iniciativa uma distorção preocupante daquilo que deveria ser a função primordial da educação: formar cidadãos.
É com muita preocupação que eu percebo que essas duas categorias, consumidor e cidadão, tem se confundido e equiparado cada vez mais na cabeça de algumas pessoas. Fenômeno típico de uma sociedade capitalista, onde a lógica de mercado se faz com que a primeira categoria ganhe mais importância do que a segunda. Para essas pessoas, um consumidor consciente dos seus direitos e deveres é também um cidadão consciente dos seus direitos e deveres. Cunhou-se, inclusive, um termo que fundiu as duas categorias: o consumidor-cidadão. Porém, essa relação não é verdadeira porque essas duas categorias são muito distintas em sua essência. São distintas fundamentalmente, porque a primeira, a de consumidor, é uma categoria eminentemente apolítica. Enquanto a segunda, a de cidadão, é eminentemente política. O consumidor consciente pode, perfeitamente, afirmar que “não gosta de política”, que “não discute política”, que “não se envolve com política” e tantas outras frases parecidas que vemos sendo repetidas cotidianamente por pessoas que, na maioria das vezes, não percebe como a política afeta a sua vida. O cidadão consciente nunca pode afirmar isso. 
Os direitos e deveres do cidadão vão muito além dos direitos e deveres do consumidor. Desde a Grécia Clássica, onde o termo foi cunhado, “cidadão” é aquele indivíduo que está envolvido na gestão da cidade. Da pólis. De onde vem o termo política. E o conceito de cidadania remete ao exercício dos direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando direta ou indiretamente da sua gestão. O cidadão, portanto, é um indivíduo envolvido na política. Ser cidadão, portanto, é envolver-se nos problemas da sua comunidade. Na gestão da cidade. Muitas pessoas podem argumentar que a formação de consumidores conscientes é o primeiro passo para a formação de cidadãos conscientes. Só que, de consumidor para cidadão é preciso realizar um salto que o individualismo crescente das sociedades capitalistas torna cada dia mais difícil. O fato é que o consumidor se preocupa com questões eminentemente individuais e só colateralmente (por assim dizer) coletivas. Ele está, em primeiro lugar, buscando o seu interesse e só secundariamente o interesse de outras pessoas que passam pelo mesmo problema. Porém, mesmo quando atinge o nível coletivo, essas questões são pragmáticas e dizem respeito a uma coletividade muito restrita. Como, por exemplo, quando um grupo de consumidores é afetado por um serviço que deixa de ser prestado. Sanado o problema junto aos órgãos de defesa do consumidor, essa coletividade se desfaz. Enquanto o cidadão se ocupa de questões eminentemente coletivas. O que é, ao fim e ao cabo, a essência mesma da sua natureza política. Ou seja, ele busca o interesse da coletividade, e o seu apenas na medida em que está ele está incluído nessa coletividade. Há aqui uma inversão radical de perspectiva entre uma e outra posição, que alguns indivíduos podem até conseguir realizar, mas que não é uma relação direta nem necessária. 
 A disseminação da ideia de que consumidor e cidadão são a mesma coisa pode levar, no seu extremos, à formação de “cidadãos apolíticos”. O que, por si só, é uma contradição em termos. Mas, vivemos em um tempo de contradições, e essa é muito bem vista por políticos mal intencionados que, assim, podem gerir a cidade como se fosse uma propriedade privada. Tendo como objetivo da sua gestão não os resolver os problemas da coletividade, mas auferir vantagens pessoais. Mascarando interesses particulares por trás de intervenções urbanas que favorecem a ele mesmo e aos seus amigos e parentes empreiteiros em vez da população da cidade. Esse fenômeno não é distante da nossa realidade. Pode parecer ótimo que os prefeitos abram os cofres e executem uma verdadeira avalanche de obras nos anos eleitorais, como o que estamos agora. Mas, vamos parar um momento para pensar quem são os verdadeiros beneficiados com essas obras. Quem elas realmente beneficiam? O pré-candidato a prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Freixo, tem se referido nas suas entrevistas a uma “cidadania do aplauso”. Onde o cidadão é um mero espectador.  Que assiste, mas não toma parte na gestão da cidade. Onde só resta ao cidadão aplaudir as iniciativas dos gestores da cidade, reduzindo o já restrito papel que a nossa “Democracia” nos reserva. Esse é o “cidadão apolítico”.
A equiparação entre consumidor e cidadão tem outro efeito perverso para o qual é preciso chamar a atenção. É o fato de que em um determinado modelo de sociedade capitalista o que define o seu grau de cidadania é o seu poder de compra. Ou, dito de outra forma, você só é considerado um cidadão de plenos direitos enquanto for também, ou principalmente, um consumidor. O que exclui dos direitos mais básicos de cidadania (vale dizer, o que exclui da cidade) aquela parcela de população que não tem poder de compra. Assim sendo, uma sociedade onde consumidor e cidadãos são a mesma coisa é uma sociedade excludente. Quero crer que as orientadoras pedagógicas, diretoras e professoras daquela escola citada lá no início desse texto não têm a intenção de perpetuar esse modelo de sociedade. Mas, então, elas têm que parar de se preocupar em formar consumidores a voltar a se preocupar em formar cidadãos.



sábado, 21 de julho de 2012

O RIO DE JANEIRO NO TEMPO DO REI

Para quem ainda não sabe, eu tenho um livro publicado. Na verdade, é a minha tese de mestrado, que fala sobre as mudanças que o Rio de Janeiro sofreu para a implantação da Corte portuguesa a partir de 1808. O título é "Entre a Corte e a Cidade: O Rio de Janeiro no tempo do Rei", e foi publicada pela Editora José Olympio em 2008, por ocasião da comemoração dos 200 anos da chegada da família real portuguesa. Diga-se de passagem, aquelas comemorações foram surreais. Nunca se falou e escreveu tanta bobagem sobre um assunto. A ponto de D. João VI virar o "fundador da nacionalidade brasileira". Mas isso é assunto para outra postagem... ou não. Mas, no meio de tanta besteira, salvaram-se alguns bons estudos, publicados na coleção D. João VI no Rio, organizada pela Prefeitura do Rio, da qual o meu livro humildemente faz parte. Para quem gosta do período, recomendo que procure os livros dessa coleção. E vou tomar a liberdade de publicar pequenos trechos do meu livro aqui no blog, de vez em quando.

Jean-Baptiste Debret (1768-1848) - Oficial da corte indo ao Palácio (1822)

A história imita a arte. A documentação da Intendência Geral de Polícia registra uma série de desentendimentos entre o Intendente Paulo Fernandes Vianna e o Juiz do Crime do Bairro de Santa Rita, José da Silva Loureiro Borges, mostrando que, na prática cotidiana da polícia joanina "ordem" e "desordem" podiam ter uma convivência muito mais próxima do que o desejado. O primeiro caso aparece em dois ofícios de Vianna dirigidos àquele Juiz, datados de 9 e 10 de setembro de 1811. Neles, Vianna trata daquilo que parece ser um caso de abuso de autoridade por parte de Loureiro Borges, que mandar afixar, por conta própria, um edital de proibição de armas, para o que ele não tinha autoridade.
Esse seria um caso isolado se o abuso de autoridade por parte de Loureiro Borges não continuasse no ano seguinte, como se pode depreender de outros dois ofícios do Intendente àquele mesmo Magistrado. Tratando agora de um caso mais grave: uma prisão indevida motivada, ao que parece, pela cobiça à mulher do próximo. O próximo, no caso, atendia pelo nome de Elias José dos Santos, que havia sido preso e espoliado por Loureiro Borges, como se percebe do ofício de Fernandes Vianna, datado de 14 de fevereiro de 1812:


“Na prisão que V.M. fez de autoridade própria a Elias José dos Santos, ficou-se V.M. com a besta em que ele ia montado, sela e seus arreios competentes, chapéu, botas e esporas e um lenço em que vinham embrulhados 54$200 réis. E tudo isto é preciso que V.M. mande aqui entregar nesta Secretaria, por isso que são coisas de que se não duvida, e aquela besta tem sido vista a trabalhar ao seu serviço”.

O motivo da prisão de Elias, ao que parece, foi uma mulata, da qual Loureiro Borges também se apropriou e que Vianna pede a devolução em ofício curto e direto datado de duas semanas antes (31 de janeiro de 1812): "Mande V.M. já à minha presença uma mulata que estava no seu sítio de Jacarepaguá, e depois passou para outro do Engenho Velho, por cuja causa foi preso Elias de Tal, que assim preciso ao serviço de S.A.R.". Ordem reiterada no ofício de 14 de fevereiro: "V.M. nunca deu conta da mulata, ficando de apresentar, e eu já soube que até estava na sua chácara da Lagoa, o que sendo certo, repare que é isto outro absurdo em que tem caído quando ainda está pendente a ordem que teve para a apresentar". Escondendo a mulata, fazendo-a peregrinar por suas diversas propriedades, Loureiro Borges tenta safar-se da ordem de apresentá-la ao Intendente.
Pela documentação não é possível saber se a mulata era livre ou escrava, propriedade ou esposa do tal de Elias, ou mesmo se esse e o Juiz do Crime apenas disputavam o seu amor. O caso é que Loureiro Borges, magistrado responsável pela manutenção da ordem, oscila em direção à desordem, no intuito de se apropriar da mulata. Na pessoa e nas atitudes de Loureiro Borges, mais uma vez os dois hemisférios se tocam e interpenetram. A documentação também não dá conta do desfecho do caso. E não temos como saber se a mulata foi realmente apresentada ao Intendente. Dos ofícios de Vianna o que se percebe são os esforços do Intendente em evitar o envolvimento em desordens daqueles que eram os responsáveis por coibi-las. (pp. 250 a 253)


quarta-feira, 18 de julho de 2012

PENSANDO A CIDADE

Hoje eu publico uma matéria que foi originalmente publicada na Revista de História da Biblioteca Nacional e que nos faz pensar quais são os projetos de cidade que vêm sendo implementados no Rio de Janeiro desde meados do século passado. Como escreve o autor da matéria, um projeto rodoviarista e segregador. Orientação que não mudou até os dias atuais. E nos faz pensar também nas reformas urbanísticas que estão sendo feitas para os mega-eventos que a cidade vai abrigar. Será que essas reformas realmente vão beneficiar os moradores da cidade? Será que é esse o projeto de cidade que nós queremos? Eu sempre afirmei que a Barra da Tijuca é a "negação do urbano" no Rio de Janeiro. Depois de ler essa matéria fiquei ainda mais convencido disso.


Segue o link:
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/reportagem/urbanismo-para-quem




P.S.: O professor Antonio Edmílson Martins Rodrigues, entrevistado na matéria, foi meu professor de História do Rio de Janeiro na graduação e quem me ensinou que pensar a cidade e vivenciá-la são tarefas complementares e inseparáveis.

sábado, 14 de julho de 2012

A VOLTA NA QUADRA


Apesar de não ser minha intenção escrever um blog de memórias, vou me permitir iniciar essa crônica com uma pequena lembrança de infância. A julgar pela minha criação, eu poderia ser classificado como aquilo que é comumente chamado de “criança de apartamento”. Daquelas que jogam bola de gude no tapete da sala, nunca soltaram pipa ou ralaram o joelho andando de bicicleta. Porém, desde muito cedo também tive contato com a rua. Lembro que com seis para sete anos tinha meu grupo de amigos, todos moradores da mesma rua, com quem me reunia diariamente para brincar depois da aula. Às vezes, em dias mais reflexivos que ativos, quando o pique pega ou o futebol não nos atraía, gostávamos de conversar peripateticamente dando a volta na quadra. Então, saíamos andando calmamente da frente dos nossos prédios para direita ou para esquerda (para cima ou para baixo, uma vez que nossa rua era uma ladeira), enquanto debatíamos sobre as grandes questões que ocupavam o cotidiano da nossa infância. Que não deviam ser diferentes das questões que preocupavam qualquer outro garoto da nossa idade. Caminhávamos apenas pelo prazer de ver mudar a paisagem enquanto conversávamos, uma vez que o ponto de chegada era o mesmo da partida. Visto a partir de hoje, poderia dizer que essa foi a minha primeira experiência com o flanar. Não lembro mais quanto tempo levávamos nessa aventura pelos arredores de nossas casas. Não devia ser muito. Mas era, certamente, tempo suficiente para que minha mãe se desse conta da minha ausência e ficasse, desesperadamente, chamando meu nome da janela de casa, sem saber onde me meti.
Essa minha primeira “aventura urbana” serviu não apenas para que eu perdesse, desde cedo, o medo da rua, mas também para que eu desenvolvesse o meu amor pela cidade. Amor que deveria ser cultivado desde cedo por todo mundo. A rua deveria fazer parte do processo de descoberta do mundo da criança, da mesma forma que ela descobre os livros quando está sendo alfabetizada. Sempre me intrigou a falta de intimidade de algumas pessoas com o espaço no qual ela está inserida. Basta pedir uma informação para ver como as pessoas desconhecem a cidade onde vivem. Mas o conhecimento do espaço urbano não é apenas o domínio do mapa da cidade, mas também da vida urbana e de seus personagens. Daqueles atores que estão na rua: o jornaleiro, o carteiro, o mendigo, etc. Por isso, entrar em contato com a rua é entrar em contato com a alteridade que se encontra para além do seu círculo familiar mais íntimo. E esse contato com o outro, travado ainda durante a formação da sua personalidade, pode impedir que a criança seja criada em um “aquário”, cultivando verdades absolutas que não são postas à prova pela falta de trato com o diferente. A “volta na quadra” faz com que a casa e a rua se tornem espaços complementares, em vez de opostos.
À medida que eu crescia, a minha volta na quadra foi ganhando em complexidade. Na adolescência já havia adquirido o hábito de caminhar. Se algum compromisso pudesse ser cumprido à pé, não me passava pela cabeça utilizar qualquer outro meio de transporte. E mesmo por vezes, em tardes ociosas, gostava de caminhar sem destino certo, apenas pelo prazer de conhecer as ruas e seus personagens. Com 15 anos já conhecia a maior parte das ruas do meu bairro, incluindo atalhos, becos e mesmo as ruas sem saída. Conseguia chegar relativamente rápido a qualquer ponto que tivesse que ir: colégio, cinema, casa de amigos, dentista. Bom, para esse último não havia pressa. E, então, meu conhecimento e amor pela rua poderia me fazer escolher o caminho mais longo. Um pouco mais tarde, quando o meu bairro se tornou pequeno, a minha volta na quadra começou a ganhar ares de uma aventura real. Então, tomava um ônibus para outro bairro e descia em um ponto aleatório para repetir ali o mesmo que já havia feito nos arredores de casa. Andava pelas suas ruas, conhecendo os seus caminhos, gravando pontos de referência, entrando em contato com outros tipos urbanos. Essa aventura contava com um componente adicional, que era o seu real desafio: conseguir encontrar o caminho de volta pra casa.   
Talvez devido à minha precoce experiência com a rua, acho curioso, e mesmo problemático, perceber que cada vez mais o individualismo que caracteriza não só a nossa sociedade como o nosso tempo, gera pessoas que não tem o mínimo apreço pelo espaço urbano. Incluindo aí o mínimo apreço pelo contato com o outro. O afastamento da rua, entendido apenas como local de passagem obrigatória, o enclausuramento em casa, tem produzido pessoas cada vez menos aptas à vida em sociedade. Que se fecham em condomínios afastados do centro, cercados por muros e guaritas de segurança, e que apenas espiam a rua através da janela da sua casa ou do seu carro com medo, desconfiança e repulsa. Pessoas que evitam, até mesmo, o contato com os próprios vizinhos e que, quando são obrigados a interagir com o outro, o fazem de má vontade, demonstrando desconhecimento das regras mais básicas de sociabilidade. Essas pessoas têm a ilusão de que podem viver isoladas da cidade. Tem gerado, mais do que isso, cidadãos que não se importam com os problemas da sua cidade. Bastando que haja luz no poste em frente ao seu portão e que a sua rua esteja com o asfalto em condições mínimas de conservação para que ele passe com o seu carro. Esse tipo, que só pode ser chamado de cidadão por um uso muito flexível do termo, não exige do Estado ou do seu candidato a prefeito que ele apresente um projeto de cidade. E vota repetidamente no mesmo charlatão que, ao longo do seu mandato, asfalta três vezes a mesma avenida, afirmando estar realizando “grandes obras de urbanização”. Não percebe que o seu descaso ajuda a tornar a cidade um lugar cada vez pior não só para aqueles que vivem no e do espaço urbano, mas também para ele próprio. Não compreendem que a sua qualidade de vida, tão arduamente buscada pela construção de uma casa confortável e segura, depende de uma cidade igualmente confortável e segura.
A “volta na quadra” não é apenas uma diversão de criança. É uma necessidade. É o que nos faz cidadãos de fato. Não há idade certa para que você coloque a cara portas afora e comece a conhecer a sua vizinhança, seus caminhos, seus pontos de referência, seus personagens e também seus problemas. Não há idade limite para a expansão dos seus horizontes físicos, que deve ser também a expansão dos seus horizontes psicológicos, mentais, intelectuais ou o nome que se queira dar. Basta ter a vontade de começar a andar. Pois, como dizia outro poeta: “Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar”.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

SE NÃO PUDER FLANAR, VÁ DE ÔNIBUS


Recentemente, o ex-prefeito de Bogotá entre 1998 e 2001, Enrique Peñalosa Londoño, esteve no Brasil e falou uma frase que foi muito reproduzida pelas redes sociais afora (mas, infelizmente, nunca repetida por nenhum prefeito no Brasil). Ele disse algo do tipo: “Uma boa cidade não é aquela em que até os pobres andam de carro, mas aquela em que até os ricos usam transporte público”. Para boa parte da nossa sociedade pode parecer até uma piada de mal gosto que alguém em sã consciência sugira que se dê preferência ao transporte público em vez do transporte particular. E, de fato, o transporte público no Brasil é caótico. A oferta é pequena, é inseguro, desconfortável, não é pontual e, ainda por cima, é caro. É assim porque as empresas que detém a concessão do transporte público hoje, pelo menos no Rio de Janeiro, de uma forma geral não estão preocupadas em atender à necessidade dos usuários e sim as necessidades dos donos. Que é uma só: ter lucro. Por isso, o investimento no sistema é mínimo. Ônibus e trens circulam em péssimo estado de conservação, gerando quebras e atrasos.
Por isso, quem tem condições opta por comprar um carro. Opção mais do que legítima, uma vez que ninguém pode ficar chegando constantemente atrasado no trabalho porque o ônibus não passou ou porque o metrô estava tão lotado que não dava nem pra entrar. Isso sem contar no grande lobby das montadoras de automóvel, que entopem a televisão de propaganda e nos fazem sonhar em ter nosso próprio carrinho desde que somos bebês. A ponto de os maiores sonhos de consumo do brasileiro médio serem, desde pelo menos a década de 1970, a casa própria e o carro próprio (mas isso é assunto para outro texto). É urgente, porém, que a sociedade brasileira tome a consciência de que se todos continuarmos optando pelo transporte particular as cidades irão parar mais cedo ou mais tarde. Já tem algum tempo que os paulistas experimentam essa verdade. A solução para o deslocamento urbano nas grandes e médias cidades é o transporte coletivo e apenas ele. Bastam duas imagens para se comprovar esse fato. Uma delas reproduz a frase de Londoño.



O fato é que, apesar de todas as dificuldades, ou devido a elas mesmas, nós temos que inverter essa lógica. O brasileiro tem que parar de pensar individualmente e passar a pensar coletivamente. Em vez de ficar juntando dinheiro e, muitas vezes, se endividar irremediavelmente para comprar e manter um carro, tem que começar a exigir um transporte público de qualidade: seguro, pontual, confortável e, se possível, por que não, barato. Tem que começar a exigir que as empresas de transporte melhorem seu serviço. Em um setor que se caracteriza pela inércia, se nós não cobrarmos nunca nada vai mudar. Tem que, principalmente, começar a votar em políticos que estejam realmente comprometidos em resolver os problemas da cidade. E o trânsito talvez seja hoje um dos piores deles. E não em políticos que têm ligações escusas com as empresas de transporte, que ganham dinheiro em cima do monopólio das empresas de ônibus, que as defendem das reivindicações da sociedade e das ações do Ministério Público. Transporte público é serviço de utilidade pública, não pode ser fonte de renda! Eu sei que o texto assumiu um tom panfletário e, até mesmo, com pitadas de utopia. Mas se não deixarmos nosso individualismo de lado e começarmos já a lutar por um transporte público de qualidade, de nada adiantará você ter um carro, pois irá tirar o seu carro da garagem na hora de ir para o trabalho apenas para ficar engarrafado 10 metros adiante.


terça-feira, 10 de julho de 2012

NOTAS MENTAIS


Da última vez em que fui pegar o metrô no Rio notei uma “novidade” nas estações. Escrevi novidade entre aspas porque, na verdade, não sei exatamente há quanto tempo se deu essa mudança. Uma vez que fazia mais de um mês que eu não andava de metrô. Não, não estou me referindo ao preço da passagem, que subiu de novo. Notei, isso sim, que retiraram os relógios das plataformas. Muita gente pode não sentir a mínima falta deles, mas os relógios fazem parte das minhas mais antigas lembranças do metrô. Primeiro eles eram grandes e analógicos. Lembravam os relógios das estações de trem art-decó da década de 1930. Quando o metrô foi privatizado, trocaram por relógios digitais retangulares, muito menos charmosos mas igualmente funcionais. E agora os suportes continuam lá, mas estão vazios. Fico pensando qual terá sido o motivo da mudança. Será que as “cabeças pensantes” (pilhas de aspas aqui) da empresa resolveram tirar os relógios para que os passageiros não fiquem calculando quanto tempo ficam plantados na plataforma esperando o trem? Bom... da última vez que calculei, o intervalo entre os trens era de intermináveis 4 minutos. Mas esse tempo vinha aumentando progressivamente desde que as duas linhas passaram a trafegar no mesmo trilho. Agora é esperar para ver se vão colocar algo no lugar. Talvez uma cabeça de palhaço. Rindo para (dos) usuários. Seria simpático.